Zambelli escreve carta da prisão e fala em “ditadura”, mas ignora condenação judicial e fuga do país
A defesa e dois familiares da deputada federal, presa na Itália, divulgaram uma carta escrita à mão pela parlamentar direcionada aos brasileiros
Por: Redação
07/08/2025 • 09h13 • Atualizado
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) divulgou na tarde desta quarta-feira (6), uma carta escrita à mão diretamente da prisão feminina de Rebibbia, em Roma, onde está detida desde o dia 29 de julho. No texto, a parlamentar diz que está “forte e corajosa”, se declara inocente e afirma que “nenhum ditador nos colocará de joelhos”. A publicação foi feita por meio dos perfis do filho, da mãe e do advogado da deputada, já que ela está sem acesso às redes sociais.
A mensagem tenta mobilizar apoio político e ideológico em torno da sua prisão, utilizando uma retórica típica de perseguição política. Zambelli afirma que mantém “a cabeça erguida” e “uma consciência tranquila de alguém inocente”, sem fazer qualquer menção à sua condenação por dez anos em regime fechado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), determinada pelo ministro Alexandre de Moraes.
O tom heroico da carta, no entanto, contrasta com os fatos: a parlamentar foi considerada foragida da Justiça brasileira, após deixar o país antes da ordem definitiva de prisão. Ela foi detida pela polícia italiana em um apartamento alugado em Roma, no bairro Aurélio, onde vivia discretamente havia quase dois meses. A Corte de Apelação de Roma já determinou que ela permaneça presa durante o processo de extradição, que pode levar de um a dois anos.
Apesar de tentar se posicionar como vítima de uma suposta “ditadura”, a prisão de Carla Zambelli seguiu os trâmites legais previstos tanto na legislação brasileira quanto nos acordos internacionais de cooperação jurídica. A decisão do STF também determinou a perda de mandato parlamentar, conforme estabelece a Constituição Federal, e a comunicação foi enviada à presidência da Câmara dos Deputados.
A tentativa de politizar a própria prisão evidencia uma estratégia de comunicação adotada por setores da extrema-direita brasileira, que buscam deslegitimar instituições do Estado, especialmente o Judiciário. Contudo, a parlamentar não apresentou provas de perseguição, tampouco argumentou contra a decisão do STF com base em elementos jurídicos concretos.
Zambelli foi levada para o presídio feminino Rebibbia, onde divide espaço com outras 369 mulheres, quase 100 acima da capacidade da unidade prisional. Sem foro privilegiado e sob custódia da Justiça italiana, a deputada agora enfrenta uma realidade bem distante dos palanques e das redes sociais.
A carta divulgada, longe de sensibilizar parte expressiva da população, tende a reforçar a visão de que Zambelli optou por fugir da Justiça em vez de enfrentar as acusações e cumprir sua pena em território nacional.