Jogos, negócios e legados: Do cheque de R$ 15 mil à revolução baiana dos games
A trajetória de Hirano, um jovem que transformou o sonho de jogar videogame em uma carreira e abriu portas para o futuro dos games na Bahia
Por: Redação
14/11/2025 • 09h55 • Atualizado
Na mesa de um restaurante em Salvador, o barulho dos talheres se misturava às risadas de um grupo de adolescentes. Era noite de comemoração. O Time fez apresentação de Maceió com um cheque simbólico de R$ 15 mil, por ter ficado em segundo lugar em um campeonato nacional de eSports. O cheque, enorme e colorido, ficou nas mãos de Hirano, o garoto que organizou toda a viagem, mas não pode ir jogar. “Tinha prova de biologia no mesmo dia”, conta.
O que parecia um episódio curioso virou ponto de virada. “Eu cheguei em casa com o cheque e meus pais acharam que era brincadeira”, lembra. Ao atravessar a porta, eles ficaram paralisados, sem acreditar que viam. “O que um menino queria chegar em casa com tanto dinheiro?”, lembra hoje, aos risos, “Hirano”, apelido que o acompanhou desde as primeiras partidas online.
"Eu achei que era brincadeira, ou que ele tinha se metido em alguma confusão. Quem ganha dinheiro jogando videogame?", conta, ainda surpresa, a mãe de Hirano, Andréa, empresária. Já o pai, Paulo Ribeiro, também empresário, reagiu com ceticismo: "Eu disse: isso não vai durar. Mas ele me respondeu com uma verdade que me desarmou. Aí percebi que ele estava levando a sério", recorda.
Naquele momento, ninguém sabia, mas estava se iniciando uma trajetória que mudaria a forma como a Bahia enxerga o universo dos games...
Da lan house ao palco da Arena
Aos 28 anos, Hirano foi um dos principais nomes da indústria de games no estado. Foi fundador da CWG, a primeira arena gamer da Bahia, localizado em um espaço de mais de mil metros quadrados dentro da Arena Fonte Nova. De lá, conectou Salvador ao mundo.”
Durante a adolescência, ele passava horas nas lan house jogando Ragnarok e DotA. Foi ali que aprendi, sem perceber, lições que usaria mais tarde no empreendedorismo: negociação, trabalho em equipe e inglês. “Falo inglês fluente 100% por causa dos jogos”, conta.
O CWG foi um espaço profissional de destaque, com uma estrutura de ponta que reúne mais de 40 máquinas, cabines de jogo, palco para eventos, estúdios de produção e áreas de mentoria. Mais do que formadores de jogadores, o objetivo era preparar profissionais para a indústria de jogos: narradores, editores, designers, apresentadores, produtores de conteúdo e jornalistas especializados. "Queríamos criar um ecossistema. Não adiantaria ter só talento, se não houvesse estrutura, apoio e visibilidade", afirmou Hirano.
A virada de confiança
Mas para tudo isso acontecer, foi preciso convencer os pais. "Eu fiz um projeto e mostrei que isso poderia virar um negócio de verdade. Que eu tinha um plano", lembra. Com o tempo, os pais não só entenderam, mas passaram a apoiar. "Hoje eu vejo o tanto que meu filho é determinado e meu orgulho de ter sido paciente para enxergar isso. Ele não largou um videogame, ele construiu uma carreira", admite Andréa.
A máquina além do joystick
Muito antes de se tornar tendência, Hirano já via no mundo digital e nos jogos é uma oportunidade. Em 2019, mergulhou no universo da blockchain, e atualmente em 2025 atua como BD da SURA Gaming Brasil e membro da Team 1, um DAO de criadores da Avalanche. De Salvador, conecta marcas, comunidades e criadores a experiências Web3 em todo o país. Mas a base, ele nunca esqueceu: “A CWG foi onde tudo começou, e é onde eu quero deixar um legado”.
De Salvador para o mundo
Embora o Brasil seja o terceiro maior consumidor de jogos do mundo, o mercado baiano ainda engatinha. "Não somos os maiores em jogos, imagine em blockchain principalmente aqui. Mas seguimos construindo algo. Ainda", diz Hirano, com um sorriso que mistura sinceridade e paciência.
Os números reforçam o otimismo: a indústria global de games arrecadou R$ 91 bilhões em 2016, quase quatro vezes mais que o cinema no mesmo ano. Desde então, o setor cresceu exponencialmente e se consolidou como o maior segmento de entretenimento do mundo, superando cinema e música juntos. Em 2024, a receita global de games chegou a cerca de US$ 224 bilhões, aproximadamente R$ 1,2 trilhão na cotação atual, e a previsão para 2025 é de US$ 188,8 bilhões. Hoje, cerca de 3,6 bilhões de pessoas jogam videogames no planeta.
No Brasil, o país se mantém como maior mercado de games da América Latina, ocupando a 12ª posição no ranking global em 2021, com um setor que movimenta bilhões de reais e cresce ano após ano. E Salvador, aos poucos, começa a se inserir nesse mapa.
Um cheque, uma escolha e uma nova geração
Na mesa do centro da casa, dois troféus brilham discretamente (um de 2015, outro de 2019), e uma camisa assinada por alguns jogadores que já passaram pela CWG. São as lembranças físicas das conquistas de Hirano. Mas o verdadeiro prêmio, talvez, seja outro. “Naquele dia, quando voltei com o cheque, eu já sabia o que queria fazer da minha vida”, lembra.
Hoje, os pais emocionados, falam com orgulho do filho: “No começo pensamos que era só brincadeira. Agora vemos ele ajudando outros jovens a encontrar um caminho. Nosso filho virou referência. Quem diria!”
É assim que nascem histórias de mudança: entre controles, conexões e coragem, um jovem baiano transforma o videogame em movimento. Hirano entende o jogo, e agora, Salvador começa a entender também.
Nos bastidores, a CWG se prepara para um novo passo: a entrada no universo dos cardgames, um capítulo que promete levar a revolução gamer baiana ainda mais longe...
Mas os detalhes desse novo desafio... Contaremos em outra matéria!

