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Escândalo do INSS chega ao núcleo político e expõe desvio bilionário contra aposentados

PF mira senador Weverton, afasta secretário da Previdência e prende familiares de operadores do esquema que teria desviado até R$ 6,3 bilhões

Por: Redator

18/12/202509h07

Foto: Pedro França/Agência Senado | Lula Marques/Agência Brasil

A nova fase da Operação Sem Desconto, deflagrada nesta quinta-feira (18) pela Polícia Federal, aprofunda um dos mais graves escândalos recentes envolvendo o INSS e lança luz direta sobre a relação entre poder político, altos cargos da Previdência e um esquema que teria desviado até R$ 6,3 bilhões de aposentados e pensionistas entre 2019 e 2024.

Entre os alvos está o senador Weverton Rocha (PDT-MA), atingido por mandados de busca e apreensão, e o então secretário-executivo do Ministério da Previdência, Adroaldo Portal, afastado do cargo e submetido à prisão domiciliar por decisão do Supremo Tribunal Federal. Portal não era um nome periférico: era o número dois da pasta e ex-chefe de gabinete do próprio senador Weverton, o que reforça o caráter político do caso e amplia o desgaste institucional do governo.

A PF também prendeu Romeu Carvalho Antunes, filho de Antônio Carlos Camilo Antunes, o chamado “Careca do INSS”, apontado como operador central do esquema e Éric Fidélis, filho do ex-diretor de Benefícios do INSS, André Fidélis. O padrão se repete: laços familiares, cargos estratégicos e acesso privilegiado a um sistema que deveria proteger justamente a parcela mais vulnerável da população.

As investigações apontam que aposentados e pensionistas tiveram valores descontados mensalmente de seus benefícios como se fossem filiados a associações, sem jamais terem autorizado a adesão. Essas entidades, segundo a CGU, prometiam serviços como assistência jurídica e convênios de saúde, mas não tinham estrutura real para prestá-los.

O mais grave, porém, não é apenas a sofisticação do golpe, mas sua longevidade. O esquema atravessou diferentes governos, diretorias e gestões do INSS, operando por pelo menos cinco anos. Isso levanta uma pergunta incômoda: como descontos em massa, que somaram bilhões de reais, passaram tanto tempo sem bloqueio efetivo dos órgãos de controle?

A resposta parece apontar menos para falhas pontuais e mais para uma captura do sistema, em que interesses privados se infiltraram em posições-chave da máquina pública, contando com complacência, inércia ou proteção política.

O escândalo já havia provocado a queda do então ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), em abril. Agora, com a operação avançando sobre figuras ligadas diretamente ao seu grupo político, a narrativa de que se tratava apenas de “desvios administrativos” perde força.

A atuação do STF, autorizando buscas, prisões e medidas cautelares em diversos estados e no Distrito Federal, indica que a investigação alcançou um grau de robustez incompatível com explicações simplistas. Ao todo, são 52 mandados de busca, 16 prisões preventivas e outras medidas em curso, números que reforçam a dimensão nacional do esquema.

O governo anunciou a devolução dos valores descontados indevidamente, em parcela única, e prorrogou até fevereiro de 2026 o prazo para contestação. A medida é necessária, mas está longe de ser suficiente.

Para muitos aposentados, o dinheiro fez falta quando mais precisavam: para remédios, alimentação e contas básicas. A restituição tardia não compensa anos de perdas, nem substitui a necessidade de responsabilização criminal e política dos envolvidos.

O caso do INSS expõe, mais uma vez, como a fragilidade dos mecanismos de controle interno e a promiscuidade entre política e gestão pública criam terreno fértil para fraudes bilionárias. Resta saber se, desta vez, a investigação irá além das prisões e afastamentos iniciais, e se o sistema será reformado para impedir que os aposentados voltem a ser tratados como uma fonte silenciosa de recursos fáceis.

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