Indústria Baiana: Crescimento em Meio a Desafios Estruturais e Ameaças Externas
Guerras econômicas, juros elevados e conflitos armados ao redor do mundo têm pressionado diversos setores produtivos, inclusive o industrial
Por: Redação
14/07/2025 • 12h00
A indústria baiana, apesar de um desempenho superior à média nacional, enfrenta uma série de desafios que comprometem sua capacidade de expansão e competitividade. Entre problemas estruturais internos e ameaças externas, o setor industrial no estado vive um momento de resiliência, mas com muitas incertezas para o futuro.
Segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a indústria brasileira deve crescer 2% em 2025, um ritmo inferior ao avanço de 3,1% registrado em 2024. Contudo, na Bahia, o setor tem se destacado positivamente. Entre janeiro e maio de 2025, o estado registrou um crescimento de 4,2% nas vagas formais no setor industrial, superando o desempenho do país. A expansão foi puxada principalmente pelos setores de transformação, que cresceu 3,6%, e pela engenharia civil, com alta de 5,9%.
O maior destaque, no entanto, foi o setor de refino de petróleo e biocombustíveis, com um crescimento impressionante de 12%, impulsionado por novos projetos em fase inicial. O superintendente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Vladson Menezes, destaca a importância desses resultados, mas alerta para a necessidade de cautela. "Embora a economia baiana tenha mostrado resiliência, ela não está imune aos efeitos da política monetária e da queda na demanda", afirmou.
A despeito do crescimento, a Bahia enfrenta uma série de desafios estruturais que prejudicam o pleno desenvolvimento da indústria. O economista Edval Landulfo, vice-presidente do Corecon-BA, aponta as deficiências logísticas e a alta carga tributária como dois dos principais gargalos. A combinação desses fatores tem levado muitas empresas a uma busca constante por maneiras de reduzir custos, o que nem sempre é viável no atual cenário econômico.
Além disso, o ambiente externo tem pressionado ainda mais a indústria baiana. A desaceleração econômica da China, principal parceiro comercial do estado, e os impactos dos conflitos internacionais, como a guerra entre Rússia e Ucrânia, têm afetado diretamente a produção e o preço do petróleo. "Esses fatores têm reflexos em toda a cadeia industrial, impactando a competitividade do setor", afirmou Landulfo.
Outro ponto crítico identificado pelos especialistas é a invasão de produtos importados, especialmente do setor químico. O polietileno produzido nos EUA, a partir de gás de xisto, tem um Concorrência desleal e o impacto das importações
Outro ponto crítico identificado pelos especialistas é a invasão de produtos importados, especialmente do setor químico. O polietileno produzido nos EUA, a partir de gás de xisto, tem um custo muito mais baixo do que o polietileno produzido no Brasil, que depende de Nafta. "Estamos enfrentando uma concorrência desleal, e a entrada desses produtos baratos tem elevado as importações e reduzido o espaço para a produção local", explicou Vladson Menezes.
O setor químico é um dos mais afetados pela concorrência externa. Mesmo sendo a quarta maior indústria química do mundo, o Brasil enfrenta sérias dificuldades, com 62% da capacidade instalada ociosa. Na Bahia, com o Polo Petroquímico de Camaçari, a produção química caiu 10,3% em 2023, refletindo a crise no setor.
Apesar dos desafios, o setor industrial baiano tem motivos para se manter otimista. A aprovação do Projeto de Lei 892/2025, que cria o Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química (Presiq), pode trazer mudanças significativas para o setor. O programa prevê incentivos fiscais para processos de baixo carbono, o que poderia gerar até 1,7 milhão de empregos e impactar o PIB brasileiro em R$ 112 bilhões até 2029. "A proposta é ambiciosa, com metas de redução de CO2 e a busca pela neutralidade de carbono até 2050", afirmou André Passos Cordeiro, presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).
Outro fator que pode impulsionar a indústria baiana é a chegada da montadora chinesa BYD em Camaçari. A instalação da fábrica pode gerar empregos e estimular outros setores, como borracha, plástico, petroquímica e informática. "Com a instalação da fábrica, há grande expectativa de geração de empregos e estímulo para áreas correlatas", destacou Vladson Menezes.
A Fieb também aposta na qualificação de mão de obra como forma de manter a competitividade do setor. A entidade tem promovido diversas iniciativas de capacitação profissional, com a atuação de instituições como Senai, Sesi, Cimatec e IEL, que oferecem formação técnica e superior. O foco está em melhorar a produtividade e inovação das empresas locais.
Edval Landulfo acredita que, para garantir um futuro promissor para a indústria baiana, é fundamental investir em inovação tecnológica, infraestrutura logística e qualificação profissional. "Precisamos de investimentos em portos, ferrovias e em uma política robusta de educação técnica e superior. Além disso, é necessário fortalecer a capacitação da mão de obra por meio de programas de qualificação e requalificação profissional", concluiu o economista.
A indústria baiana apresenta resultados positivos, mas não está imune aos desafios estruturais internos e aos impactos de um cenário global instável. A resiliência do setor, impulsionada por novos projetos e pela qualificação da mão de obra, é um fator importante para o seu crescimento, mas a falta de uma infraestrutura eficiente e a concorrência desleal ainda são obstáculos a serem superados. O futuro da indústria baiana dependerá da capacidade do estado e das empresas de se adaptarem às mudanças econômicas e de se prepararem para um mercado cada vez mais competitivo.